segunda-feira, outubro 02, 2006

S. João Batista D'Ajudá

(suplemento das Artes das Letras, O Primeiro de Janeiro, 25 Setembr 2006)


"Há sempre um piano
Um piano selvagem
que nos gela o coração
e nos tras a imagem daquele Inverno
Há sempre a lembrança
de um olhar a sangrar
de um soldado perdido
em terras do Ultramar
por obrigação, aquela missão
Combater a selva sem saber porquê
e sentir o inferno de matar alguém
e quem regressou
guarda sensação
que lutou numa guerra sem razão... sem razão
Há sempre a palavra
a palavra "nação"
que os chefes trazem e usam
pra esconder a razão da sua vontade
daquela verdade
E para eles aquele Inverno
será sempre o mesmo inferno
que ninguém poderá esquecer
ter que matar ou morrer ao sabor do vento
naquele tormento
Perguntei ao céu: será sempre assim?
poderá o Inverno nunca ter um fim?
não sei responder
só talvez lembrar
o que alguém que voltou a veio contar... recordar"

(1988, Miguel Ângelo, Miguel Magalhães, Fernando Cunha)